domingo, 25 de março de 2012

A semelhança de um teatro com um hospital

Dando continuidade as minhas histórias de plantão, hoje, vou falar sobre uma história interessante que me causou bastante reflexão.

Estava no corredor do hospital, quando fui cumprimentado por uma colega fisioterapeuta, que me deu notícias de um paciente que a gente tinha atendido juntos há cerca de uns dois anos. O paciente era um senhor, que tinha problema de insuficiência cardíaca e que estava muito mal, naquela época, em ventilação mecânica.

Ela me disse que tinha uma notícia boa e uma ruim para me contar. Com tais notícias contadas, fez-me lembrar do símbolo do teatro, o qual é representado por duas máscaras: uma alegre e a outra triste.

A história que ela me contou com certeza era uma mistura de humor e drama, típica das peças teatrais que mexem com o nosso imaginário. E a mesma história me serviu para contar a uma outra família como exemplo de como é vida.

Estava na visita dos familiares aos seus entes doentes, quando me deparo com uma filha angustiada com sua mãe que estava muito doente. Tal filha estava acompanhada com o seu marido.

Ela me perguntou angustiada:

_Doutor, minha mãe será que vai sair dessa?

Então, eu respondi a ela e ao seu marido com a história da fisioterapeuta:

_Recentemente, uma amiga fisioterapeuta me contou uma história que vou contá-la para vocês. Havia neste mesmo setor um senhor que tinha problemas de coração. O mesmo recebia visitas constantes do genro dele que era médico. A família já estava conformada que o senhor iria falecer, inclusive o genro. Minha função naquele dia, como médico, foi alertá-los que não poderíamos jogar a toalha logo e dei uma injeção de ânimo nos familiares, assim como, tomei as medidas e procedimentos cabíveis com os outros colegas da equipe para a circunstância. Sabe o que aconteceu?- eu lhes perguntei.

Eles ficaram ansiosos para saber. Prossegui com minhas palavras:

_ O senhor idoso que estava mal, hoje está muito bem. Agora, eu tenho uma notícia triste para lhes contar sobre esse caso.- neste momento eles fizeram feições de ansiedade e curiosidade. Continuei:

_ Fiquei sabendo que o genro daquele senhor tinha falecido de infarte...- assim quando eu acabei de dizer isso, o marido da filha da paciente teve uma reação de riso e poucos segundos depois ficou sério e me pediu desculpas por ter rido. Eu aproveitei a situação para não deixá-lo constrangido e disse-lhe:

_ Pois é, a reação que o senhor teve é natural, pois a gente não sabe se ri ou se chora. São histórias da Medicina. Por isso é possível que dona Fulana consiga superar essa fase, apesar da gravidade, mas isso só o tempo dirá...- referi-me ao quadro da ente deles.

Fiquei refletindo sobre esses fatos, o marido da mulher riu e depois ficou sério. Será que ele não caiu na real na seguinte hipótese que hoje a sogra dele estava doente e ele poderia ir primeiro que ela?

Um hospital assim como um teatro expõem as suas faces: umas são alegres; outras são tristes, já os personagens somos nós, profissionais, pacientes e familiares em um cenário de várias incógnitas...

Marco Valério


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